A Turquia é uma terra rica em história, e a região da Anatólia, em particular, foi palco de várias civilizações ao longo dos milênios. Entre as culturas antigas que floresceram nessas terras, a civilização frígia desempenhou um papel significativo.
Conhecidos por seu famoso rei Midas, os frígios habitaram a região entre o final do segundo milênio a.C. e o início do primeiro milênio a.C., após o colapso do Império Hitita. Recentemente, uma série de escavações realizadas no Castelo de Midas, em Eskisehir, trouxe à tona um conjunto de ruínas que oferece novos insights sobre os rituais religiosos e a vida cotidiana dessa antiga cultura.
O Dr. Yusuf Polat, arqueólogo da Universidade Anadolu e líder da equipe de escavações, descreveu as descobertas como um marco para a compreensão da civilização frígia. Durante as escavações, foram encontradas várias estruturas, incluindo fornos e lareiras usados em celebrações rituais, além de altares e estátuas de divindades frígias.
Essas descobertas revelam que o local, situado em um planalto elevado, era utilizado para cerimônias religiosas, muitas vezes associadas a sacrifícios e celebrações de abundância. As novas escavações não apenas revelam mais sobre a cultura frígia, mas também mostram que o Castelo de Midas foi habitado por milhares de anos, com evidências de ocupação desde o período Paleolítico até a época romana.
Castelo de Midas: uma fortaleza sagrada
O Castelo de Midas, localizado no Vale de Midas, na província de Eskisehir, tem sido uma importante área de estudo para arqueólogos e historiadores. O sítio está associado à lenda do rei Midas, famoso por transformar tudo o que tocava em ouro, mas suas origens são muito mais profundas e antigas. O planalto elevado onde as ruínas foram encontradas era conhecido como a “Área Sagrada de Agdistis”, um local reservado para cultos e cerimônias religiosas.
As escavações recentes descobriram lareiras e fornos usados para preparar alimentos durante as festividades, sugerindo que o local era um importante centro de celebrações religiosas.
De acordo com o Dr. Polat, essas lareiras eram fundamentais para os rituais de sacrifício e oferendas à deusa Matar Kubileya, uma das principais divindades do panteão frígio, conhecida por sua associação com a fertilidade e a natureza.
O Castelo de Midas, com sua vasta extensão e localização estratégica, também foi utilizado pelos hititas antes da chegada dos frígios. Os hititas construíram a imponente fortaleza de Yazılıkaya nas proximidades, reforçando a importância do local como um centro defensivo e espiritual. Esse passado multifacetado é uma prova da longa e rica história da região.
A deusa Matar Kubileya e os rituais de fertilidade
Uma das descobertas mais significativas das escavações foi a presença de quatro bacias de pedra esculpidas no leito rochoso do planalto, localizadas próximas a uma estátua da deusa frígia Matar Kubileya.
Essa deusa era a figura central nos rituais religiosos frígios, simbolizando a natureza e a fertilidade. Os frígios acreditavam que ela governava a terra, da qual dependiam para sua sobrevivência, e, por isso, os sacrifícios em sua homenagem eram frequentes.
Essas bacias de pedra provavelmente serviam para coletar líquidos usados nos rituais de sacrifício e oferendas.
O Dr. Polat afirmou que a presença dessas tigelas e da estátua da deusa são evidências claras de que o planalto do Castelo de Midas era dedicado a rituais de fertilidade. Esses rituais teriam atraído pessoas de toda a Anatólia, que vinham ao local para garantir as bênçãos da deusa sobre suas colheitas e rebanhos.
As descobertas no Castelo de Midas ajudam a reconstruir o papel crucial da religião na vida frígia, mostrando como os rituais e as cerimônias eram centrais para a sobrevivência e o bem-estar da comunidade. Além disso, esses achados fornecem informações valiosas sobre como as práticas religiosas eram organizadas e realizadas em locais sagrados.
A longa história do Vale de Midas
Embora as descobertas relacionadas à civilização frígia tenham atraído grande atenção, as escavações no Castelo de Midas também revelaram uma longa história de ocupação humana na região.
O Vale de Midas parece ter sido habitado por cerca de 250.000 anos, com evidências de ocupação desde o período Paleolítico Inferior. Ferramentas de pedra encontradas nas camadas mais profundas das escavações indicam que grupos humanos arcaicos usaram a área como um assentamento estratégico devido às suas terras férteis e localização defensiva.
Ao longo dos séculos, a região continuou a ser um importante centro de habitação humana. Durante o período romano, por exemplo, o Vale de Midas serviu como um local para assentamentos agrícolas e militares. Pedaços de cerâmica encontrados no local, datados dos séculos I e II d.C., atestam a presença contínua de colonos romanos na área, o que destaca a relevância histórica do Castelo de Midas e seus arredores.
Essa continuidade de ocupação ao longo de milhares de anos é um testemunho da importância geográfica e estratégica do Vale de Midas. Suas terras férteis e posição elevada o tornaram um local atraente para uma série de civilizações, desde os primeiros humanos arcaicos até os romanos.
A herança hitita no Castelo de Midas
Antes da chegada dos frígios à Anatólia, a região era dominada pelo poderoso Império Hitita, que construiu a impressionante fortaleza de Yazılıkaya, nas proximidades do Castelo de Midas. Os hititas governaram a Anatólia entre 1650 e 1180 a.C., e seu impacto na região foi duradouro.
A fortaleza de Yazılıkaya serviu como uma proteção estratégica para Hattusa, a capital do império hitita, e seus remanescentes ainda podem ser vistos na paisagem do Vale de Midas.
Embora o Castelo de Midas seja mais frequentemente associado à civilização frígia, as escavações recentes revelaram que as raízes do local remontam à era hitita. Isso sugere que os frígios, ao chegarem à região, aproveitaram as estruturas já existentes e as adaptaram para seus próprios usos religiosos e culturais. A presença contínua de ocupação e construção no Castelo de Midas é uma prova do valor estratégico e espiritual do local ao longo dos séculos.
ISTAMBUL – Arqueólogos fizeram uma descoberta significativa no Castelo de Midas, um antigo sítio frígio localizado em Eskisehir, centro de Türkiye. As escavações recentes, lideradas pelo Dr. Yusuf Polat da Universidade Anadolu, revelaram artefatos e estruturas que fornecem novos insights sobre as práticas religiosas e interações culturais dos frígios, uma civilização da Idade do Bronze que dominou a Anatólia. Esta escavação, que começou em 2022, focou no Vale de Midas de três quilômetros e revelou relíquias da vida espiritual frígia que remontam ao século VII a.C.
Os frígios eram um antigo povo da Anatólia conhecido por suas complexas tradições religiosas, e os fornos e lareiras recentemente descobertos sugerem que o fogo desempenhava um papel central em seus rituais. Encontradas perto de um altar de pedra frígio, acredita-se que essas estruturas eram usadas para cozinhar animais de sacrifício e assar pão como parte de cerimônias religiosas. “Nós identificamos áreas de lareiras onde ocorriam preparações rituais, marcadas por simples fundações de pedra e estruturas de madeira”, explicou Polat. Descobertas preliminares indicam que esses elementos datam do período frígio médio, aproximadamente do século VIII ao VII a.C.
A equipe do Dr. Polat também descobriu evidências de que esta área, conhecida como Agdistis Sacred Area, tem sido um centro de adoração há muito tempo. Posicionado no topo de um planalto rochoso, este local faz parte de uma área de 88 acres que inclui o famoso Monumento Yazilikaya, um templo ao ar livre adornado com relevos de pedra de deuses e deusas hititas. Yazilikaya, perto da antiga capital hitita de Hattusa, tem sido reconhecida como um importante local religioso por séculos. As esculturas hititas incluem mais de 90 divindades, e parece que os frígios integraram algumas crenças hititas às suas próprias, um reflexo das trocas culturais que caracterizaram a antiga Anatólia.
Central para a adoração frígia era Cibele, a Deusa Mãe, conhecida como Matar Kubileya, que simbolizava fertilidade, natureza e proteção. Sua influência se estendeu além da Frígia, impactando as religiões grega e romana muito depois que os frígios perderam a proeminência. Polat observou que, além de Cibele, os frígios reverenciavam uma divindade solar provavelmente derivada de tradições religiosas vizinhas da Anatólia. Essa mistura de crenças ressalta a interconexão de culturas antigas na região. Cibele, associada às montanhas e aos temas cíclicos de vida, morte e renascimento, mais tarde influenciaria práticas espirituais muito além da Anatólia.
As descobertas no Castelo de Midas também revelam aspectos dos cultos de mistério frígios, que eram semelhantes aos ritos dionisíacos, com foco nos ciclos de vida e morte. Esses cultos, caracterizados por rituais extáticos envolvendo música, dança e sacrifício, podem também ter incorporado o fogo como um símbolo de renascimento e transformação. “Pela primeira vez, identificamos lareiras e fundações de pedra simples em frente a um altar frígio, indicando o papel do fogo nas preparações rituais”, Polat compartilhou. Essa descoberta apoia teorias de que o fogo era considerado sagrado pelos frígios, provavelmente ligado à sua adoração a Dionísio.
A escavação em andamento no Castelo de Midas marca a primeira desde 1953 e rendeu não apenas artefatos frígios, mas também relíquias de outras civilizações, incluindo cerâmicas e ferramentas da era romana que datam do período Paleolítico Inferior. “Encontramos ferramentas de pedra do Paleolítico Inferior durante pesquisas de superfície. Quase todas as civilizações subsequentes viveram nesta geografia, pois esses vales profundos eram férteis e adequados para defesa”, explicou Polat. Essas descobertas sugerem que o Vale de Midas foi habitado por pelo menos 250.000 anos, um testamento de sua terra fértil e posição estratégica. “Nossa pesquisa de superfície revelou que quase todas as civilizações subsequentes ocuparam esta geografia devido às suas terras férteis e vales defensáveis”, explicou Polat.
Outra descoberta notável foi um conjunto de bacias de pedra esculpidas no leito rochoso, localizadas perto de uma estátua de Matar Kubileya. Acredita-se que essas bacias tenham sido usadas em rituais de fertilidade centrais para a espiritualidade frígia. “A presença das bacias de pedra e do ídolo próximo fornece evidências concretas de rituais de prosperidade abençoados pela Deusa Mãe”, Polat acrescentou. Tais descobertas indicam que essa área provavelmente era um destino para adoradores de todo o reino frígio, atraídos pela promessa das bênçãos de Cibele.
O Dr. Polat e sua equipe também encontraram cerâmicas lídias do século VII-VI a.C. e artefatos romanos do século I-II, destacando a importância histórica da área como uma encruzilhada para várias culturas. A civilização frígia atingiu o auge durante o período frígio médio, mas a região permaneceu um centro de atividade humana por séculos, mesmo após o declínio dos frígios após a invasão ciméria em 690 a.C.
As descobertas no Castelo de Midas não apenas aprofundam nossa compreensão da cultura frígia, mas também ressaltam o papel da região como um nexo de desenvolvimento cultural e religioso na Anatólia. As descobertas revelam como as crenças e práticas frígias foram influenciadas por, e por sua vez influenciaram, as culturas vizinhas. O trabalho do Dr. Polat ilustra a importância duradoura do Vale de Midas, onde camadas de história continuam a oferecer insights valiosos sobre o mundo antigo.
À medida que as escavações prosseguem, Polat e sua equipe provavelmente descobrirão mais detalhes sobre os frígios e as muitas civilizações que outrora chamaram o Vale de Midas de lar. Cada artefato contribui para uma narrativa mais ampla de síntese cultural e evolução religiosa, oferecendo uma janela para as antigas crenças e práticas que moldaram esta região por milênios.
Descubra mais sobre Pagan Reborn
Subscribe to get the latest posts sent to your email.