O Livro dos Mortos (no inglês, Book of the Dead, ou em tradução mais aproximada do título egípcio original r(ꜣ)w n(y)w prt m hrw(w), “Book of Coming Forth by Day”) é uma coletânea de textos funerários geralmente inscritos em papiros, que abrange um período entre 1550 b.C e 50 b.C, ou seja, desde o início do Novo Império até o Período Romano. Tais textos mortuários possuem uma característica mágico religiosa, servindo para guiar e auxiliar uma jornada segura no submundo, garantindo a chegada do falecido no julgamento de sua alma, e o subsequente renascimento para a vida eterna.
Apesar de ser popularmente referido como um livro, não há um cânone ou seleção especí|ca de textos que compunham o Livro dos Mortos, pois os feitiços (spells) e ilustrações (vignettes) escolhidos variam bastante nos exemplares conhecidos. Sendo assim, o trabalho de enumerar e organizar os textos recaiu sobre os pesquisadores da modernidade, não devendo ser levado ao pé da letra como uma ordem fixa e rígida dos feitiços, que pareciam ser escolhidos a dedo pelos egípcios que requisitavam sua produção aos escribas, conforme as percepções pessoais de quais seriam os encantamentos mais úteis na jornada que realizariam pelo pós-vida.
Nesse texto, além de uma brevíssima introdução sobre o Livro dos Mortos, me proponho a traduzir e apresentar um dos encantamentos que mais me cativa dentre a numerosa seleção de textos dessa coletânea: um feitiço com a |nalidade de estar na presença de Thoth. Uma parte fundamental das práticas mágico-religiosas egípcias (ou Heka) consiste nos encantamentos, ou seja, o poder da fala. É o caso do spell 95, composto por um encantamento e uma vignette ilustrativa do falecido, efetuando a magia. Importante notar que nos feitiços funerários, o operador da magia é equiparado a é equiparado a Osíris, fazendo alusão direta ao processo mitológico de vida, morte e renascimento desse Deus.
Vignette do Spell 95 do Livro dos Mortos de Ramoses. – Datado entre os séculos 14-13 a.C. Fonte.
Palavras ditas por Wesir (Osíris), supervisor dos arquivistas do Senhor das Duas Terras, (seu nome/nome do falecido), Justificado(a).
Ele diz:
“Eu sou o terror na tempestade e o guardião da grande cobra em guerra. Eu ataquei com a faca e cinzas esfriam os oponentes para mim. Eu agi em defesa da grande cobra em batalha. Eu fortaleci a faca alada em posse daquela alada que está na mão de Khepri na tempestade. Eu sou o Osíris, supervisor dos
arquivistas do Senhor das Duas Terras, (seu nome/nome do falecido), Justificado, em paz.”
Notas complementares:
• Nos espaços entre parênteses, estava inserido o nome de Ramose, o dono desse exemplar do Livro dos Mortos. Sendo assim, deve ser substituído pelo nome do operador da magia, identi|cando-o como Osíris, o Justificado.
• Apesar de configurar como um feitiço funerário, é possível adaptar o feitiço para outras práticas mágico-religiosas que visem conexão com Thoth – seja por meio de invocação ou evocação.
• Pela observação da vignette que acompanha o texto, é sugerível que oferendas sejam efetuadas junto ao feitiço, como de costume em atividades devocionais. Além da evidente oferenda de uma flor de lótus azul (Nymphaea nouchali var. caerulea) por Ramoses, há um recipiente para líquidos possivelmente contendo cerveja ou água, e um item branco que se assemelha a um pão ou algum tipo de comida.
USO MAGICO DO ANKH.
O ankh, ou cruz ansata, é um antigo símbolo hieroglífico egípcio em forma de cruz com um laço em forma de lágrima no lugar de uma barra superior vertical. É usado na arte e na escrita egípcias para representar a palavra “vida” e, por extensão, como um símbolo da própria vida. O ankh também tem outros significados, como:
Símbolo da magia, pois o nó permite relacionar ou desligar pessoas e elementos entre si
Símbolo da união do Céu e da Terra, combinando os símbolos feminino e masculino do deus Osíris (a cruz) e da deusa mãe Ísis (o oval)
Símbolo de proteção e poder dos antigos Deuses e Deusas egípcios
Símbolo da passagem segura deste mundo para o outro, quando carregado pelo morto e mantido de cabeça para baixo
Símbolo da chave que destrava os portões da morte para a eternidade
Símbolo da clarividência, quando colocado na testa, entre os olhos
O ankh também pode ser interpretado de outras maneiras, como:
Símbolo dos “Degraus da Iniciação”, ou a chave que abre todas as portas
Símbolo do laço da sandália do peregrino, ou seja, aquele que quer caminhar, aprender e evoluir.
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